O afeto como instrumento primordial na atuação do educador físico

Por: Marcelo Bittencourt Jardim
Educador físico, psicomotricista, especialista em Psicomotricidade (IBMR)

Este trabalho investiga a história da comunidade carente onde o programa social com atividades coletivas e individuais está inserido e o desenvolvimento da Psicomotricidade Relacional na atuação profissional do educador físico. O trabalho engloba, ainda, o discurso de autores sobre a Psicomotricidade Relacional nas comunidades e o aspecto positivo dos programas sociais implantados nessas comunidades carentes, por meio de revisão bibliográfica. Também foi abordada a área de intervenção da Psicomotricidade na vida dessas crianças desfavorecidas: a educação, a reeducação, a parte psicomotora e psicoafetiva dessas crianças. Observamos a importância do afeto e do movimento na formação do educando, que faz toda a diferença para uma mudança de conduta, de atitudes e de interesse nas aulas. O trabalho aponta o lado afetivo positivo do educador físico como possibilidade de acesso às crianças problemáticas, tímidas, deficientes e pouco sociáveis, que sofrem com o descaso social e pela falta de uma família minimamente estruturada. Demonstraremos que a família pode influenciar positiva e negativamente na formação desses jovens que passam por problemas sociais e afetivos e que a intervenção do educador é fundamental na formação dos mesmos, enaltecendo que o afeto é importante para dar segurança, demonstração de carinho, cuidado, atenção e crescimento pessoal (amadurecimento na vida) para esses jovens. Este trabalho, assim, pretende mostrar a importância que a Psicomotricidade Relacional exerce na vida e no dia a dia das crianças que residem em comunidades carentes e que o educador é uma figura muito influenciadora, positiva ou negativamente, na vida dessas crianças, que o movimento e o afeto são aspectos básicos fundamentais para a formação do sujeito.

A escola tem papel de importância muito grande na formação do sujeito, principalmente nos segmentos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental, porém pela minha prática profissional tenho observado que a instituição “Escola” está perdendo força ao longo dos anos.

Sou educador físico de um programa social em um lugar de risco, onde há predominância do tráfico, da prostituição e da ociosidade, conhecido por nós como comunidade carente. Exerço a função de coordenador de núcleo do Ministério do Esporte do Governo Federal e vivencio essa realidade nas “favelas” onde desenvolvo meu trabalho, atuando com crianças e adolescentes na faixa etária entre cinco e dezoito anos.

Este estudo surgiu da minha percepção em relação ao papel que exerço na vida dessas crianças e jovens dentro da comunidade e da escola e do quanto a ciência da Psicomotricidade pode servir como instrumento mediador e formador do sujeito em seu aspecto biopsicossocial. Pretendo, pelo relato de experiência e revisão bibliográfica, enfatizar a importância da atuação especializada como diferencial na qualidade de vida desses jovens.

Vejo que a escola está sendo uma das últimas opções de escolha dos jovens da periferia por vários fatores: pela falta de incentivo à educação pelo Estado, pela má formação dos profissionais irresponsáveis e “acomodados”, pela falta de estrutura das escolas, pela forma como esses jovens estão sendo efetivados a cada ano letivo (aprovação automática) e, por fim, pelo Estado, que não se importa com essa situação.

Utilizo as iniciais do nome das crianças citadas para manter sigilo.
Os jovens não estão sendo atraídos mais pela educação; já acompanhei de perto meninos com 14 anos que não sabiam ler, mas estavam frequentando a escola e sua série normalmente. Um deles, DM, dizia: “Vou quando eu quero para escola, sei que vou passar direto mesmo, não posso repetir”. DM tem 14 anos, estuda em um CIEP em uma comunidade carente de Niterói e é meu aluno no programa social. Outro depoimento é de AG, uma criança de 11 anos, que cursa e está matriculada na terceira série (quarto ano) em uma escola municipal, também de uma comunidade carente em Niterói e minha aluna no programa social, que relatou: “Tenho dificuldade na escrita e não sei ler, mesmo assim estou sendo aprovada”.

Clique aqui para ler o conteúdo completo

Nova Turma – Especialização em Psicomotricidade 2015